Alto Comissário visita Sudão do Sul para dar visibilidade à “crise esquecida”

Fonte: ACNUR Brasil

O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, encerrou na última sexta-feira uma visita de três dias ao Sudão do Sul. O objetivo foi chamar a atenção para os milhares de refugiados sudaneses em países vizinhos da região. Guterres, que visitou refugiados em Yida, um campo próximo à fronteira com o Sudão, descreveu a situação no Sudão do Sul como “uma crise esquecida”.

O Alto Comissário mostrou-se particularmente preocupado com o bem-estar dos 60 mil civis vivendo em Yida, orientando-os a aceitarem a realocação para lugares mais ao interior do Sudão do Sul, onde as condições de segurança, saúde e acesso a recursos são melhores.

“Esta é a situação mais preocupante que já encontrei em um campo de refugiados. Não apenas pela proximidade com uma zona de conflito, mas pelo difícil acesso – todo tipo de ajuda precisa chegar por via aérea”, disse durante a visita. Yida fica em uma região pantanosa no Estado de Unity, distante apenas 12 quilômetros da fronteira com o Sudão.

“A proximidade com uma fronteira volátil nos faz temer pela segurança dos refugiados,” disse a Representante do ACNUR no Sudão do Sul, Mireille Girard, reiterando a preocupação de Guterres. “Este é o lugar mais perigoso do Sudão do Sul.”

Dezenas de milhares de civis deixaram o Sudão desde meados do ano passado para escapar da violência no Estado de Kordofan do Sul, gerada pelos embates entre o Exército do país e o Movimento Popular para a Libertação do Sudão – Norte. O fluxo de pessoas quase foi suspenso na temporada de chuvas, quando Yida ficou praticamente ilhada, mas voltou a se intensificar. O ACNUR se prepara para receber um aumento de refugiados.

Guterres, que estava acompanhado pelo ministro sul-sudanês para Ações Humanitárias e Prevenção de Desastres, Joseph Lual Achuil, disse que apesar da preocupação com a segurança, ele estava “bastante otimista pelo compromisso do governo do Sudão do Sul em garantir que pessoas armadas não entrem em Yida”.

O ACNUR tem buscado áreas em locais mais seguros e onde seria mais fácil fornecer os serviços básicos de saúde e educação para os refugiados. Guterres pediu a todos os refugiados que aceitem deixar Yida, ressaltando que “as pessoas chegam ao campo desidratadas, malnutridas e exaustas.” Mulheres e crianças são maioria entre os recém-chegados, enquanto quase 70% das pessoas que vivem em Yida têm menos de 18 anos de idade.

O porta-voz dos refugiados, Hussain Agumbolo, disse ao Alto Comissário que cabe às pessoas decidir pela realocação. Segundo ele, os civis continuarão deixando Kordofan do Sul. “Eles podem ser atingidos por ataques aéreos ou terrestres a qualquer momento. Sabemos que não há lugar seguro nas montanhas de Nuba [ao longo da fronteira],” disse.

O ACNUR e organizações parceiras garantem assistência emergencial assim que os refugiados cruzam a fronteira. Eles recebem cuidados médicos, água, comida e lugar para construir um abrigo temporário. Uma campanha de avaliação biométrica está sendo promovida para facilitar a assistência de saúde e proteção aos refugiados.

Muitos dos refugiados em Yida, como Mariam Siluman, relutam em deixar o campo. Ela deixou o Sudão com o marido e os filhos depois que sua casa foi atacada e a comida acabou. No campo ela começou um pequeno jardim ao lado de seu abrigo. “Não queremos nos mudar para lugar nenhum. Queremos ficar aqui.”

Após uma temporada de chuvas que durou oito meses, a estação seca facilita o trânsito das pessoas entre as fronteiras. O ACNUR se prepara para receber outros milhares de refugiados.

Um grande fluxo de pessoas vindas da província sudanesa de Nilo Azul também é esperado no Estado de Alto Nilo (Sudão do Sul), onde o ACNUR coordena atualmente quatro campos que abrigam mais de 110 mil refugiados. “Faremos todo o possível para mobilizar a ajuda necessária para estas pessoas que já sofreram tanto,” disse Guterres.

O Alto Comissário, que reuniu-se com o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit, e outros oficiais do governo, apelou para uma decisão política que ponha fim às hostilidades. Enquanto o conflito não é resolvido, as operações de emergência no Sudão do Sul precisam urgentemente de mais recursos financeiros.

O Sudão do Sul abriga em torno de 200 mil refugiados, sendo 170 mil nos Estados de Unity e Alto Nilo.

 

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